quarta-feira, 31 de março de 2010

Do fundo do meu coração

Minha vida está longe de ser um filme, mas o que eu nunca pude reclamar é de não ter uma trilha sonora de cada momento. Ontem, ouvindo Roberto Carlos, percebi que nada poderia falar melhor de meus desejos mais urgentes. Nesse post, poupo minhas palavras, abro espaço e deixo o Rei falar de mim:

Do fundo do meu coração
Eu, cada vez que vi você chegar,
Me fazer sorrir e me deixar
Decidido, eu disse nunca mais
Mas, novamente estúpido provei
Desse doce amargo quando eu sei
Cada volta sua o que me faz

Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Vi o meu amor tratado assim
Mas, basta agora o que você me fez
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui
E sei que vou chorar a mesma dor

Agora eu tenho que saber
O que é viver sem você

Eu, toda vez que vi você voltar,
Eu pensei que fosse pra ficar
E mais uma vez falei que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui
E sei que vou chorar a mesma dor

Se você me perguntar se ainda é seu
Todo o meu amor, eu sei que eu
Certamente vou dizer que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

terça-feira, 16 de março de 2010

E o feitiço se voltou contra o feiticeiro

Na mesa de bar, entre um papo picante e uma conversa séria, te perguntei – à queima roupa – se tinhas medo de mim. Você ficou meio atônito, deu um gole na cerveja e não respondeu. Fez uma cara de quem precisava de uma explicação. “Medo? Como assim?”, diziam teus olhos pra mim. Então disparei: “Medo porque eu te conheço, já vi de perto sua alma. Medo porque tu sabes que se mentires pra mim eu saberei. Medo porque já vi tua fragilidade e sei de todos os teus defeitos”, disse com uma urgência orgulhosa. Você permaneceu calado, se esquivando de reconhecer cada frase que eu havia dito. Só abriu a boca pra ressaltar: “Não minto pra você. Pra você, eu não minto”. Relembrei esse retalho de nossa conversa dessa noite, que terminou na manhã do dia seguinte, hoje. E, passado quase três meses ou mais (nem sei direito), percebo que medo tenho eu. Temo em te tirar dessa sala empoeirada que é meu coração. Tenho medo exatamente pelos motivos que te dei. É assustadoramente estranho tocar a alma de alguém, penetrar no pensamento e ler que não sou mais quase nada para ti. E, para mim, você não mente. Medo! Medo de te ver com outro alguém, de nunca mais te ver, de te afastar, de ficarmos estranhos, de não conseguir mais interpretar teus silêncios. Tenho medo, e confesso, de afugentar minha inspiração para escrever, sorrir e viver quando te expulsar de dentro de mim. Você vai e leva metade de mim. E quase sempre é a metade boa. O que fica é parte melancólica, nostálgica, ferida, assustada. Antes de ir pra sempre, por favor, me devolve pra mim. Porque o que eu tenho mais medo é de não ficar inteira sem você.

domingo, 7 de março de 2010

Adeus

"Toda despedida é dor... tão doce todavia, que eu te diria boa noite até que amanhecesse o dia"
(William Shakespeare)

Era fim de tarde e a gente sentou um ao lado do outro na fina areia da praia. De frente ao imenso mar azul o que me hipnotizava eram os teus olhos apertados enquanto sorria. Te fitava procurando desvendar teus segredos e ria de mim mesma por saber que não conseguiria jamais entender o que passava pela tua cabeça. Desisti e resolvi aproveitar aquelas últimas gotas de tempo contigo para gravar cada detalhe na memória. O vento desgrenhava meu cabelo e trazia um gosto de espuma salgada. Mesmo sabor da saudade que eu já começara a sentir. O sol preguiçoso se deitava no mar e o céu se pintava de um laranja roseado. Uma cor bonita como meu carinho. Mesmo encantada com o espetáculo que a natureza nos brindava em nosso último encontro, me peguei viajando entre as lembranças de nós dois. E eram tantos momentos, tantas sensações, tantas emoções que lembrei até do que não foi. O sol ia morrendo e levando você de mim. E com você as certezas, os sonhos e as ilusões de uma história de amor sem final feliz. Tudo ia ficando escuro e eu não tinha medo porque você ainda estava lá. Era assim que eu sonhava em passar meu último dia contigo. Culpa dos filmes que a gente assiste. Vida real é diferente e você foi embora sem ao menos dizer adeus, sem um último abraço, sem sequer um olhar. Você virou e, de cabeça baixa, partiu em uma noite qualquer. E eu a imaginar porque nesse tempo todo você sempre decidia que o melhor era ir que ficar.