quinta-feira, 21 de maio de 2009

à tici, com carinho


O amor é imprevisível, mas, em alguns casos, surpreendente seria não amar. E foi assim, naturalmente, que passei a amar a menina do céu cor de rosa. Como não se entregar a alguém que revela tanta pureza e beleza em seu coração? Como não admirá-la por conseguir sempre enxergar o melhor das pessoas? Como não embarcar em seus sonhos mais impossíveis (ela sempre faz questão de manter os pés bem longe do chão seja pelos saltos enormes ou pelas idéias viajantes!) quando a empolgação é tão forte quanto presente? Como não se desmanchar quando ela sorri sem pudores ou deixa escapar lágrimas fartas de seus olhos mel? O olhar é doce, mas a presença é ainda mais açucarada. E o segredo dessa convivência não se tornar enjoativa é que ela ainda dá uma apimentada para cortar os excessos. Excesso mesmo só de carinho e confiança. Hoje sei que este foi um presente com direito a papel de seda e laço de fita vermelho e tudo. Se eu deixei de procurar joaninhas no meu jardim porque sei que elas vêem até nós foi graças a seu exemplo. A prova ela deu de na prática: minha grande amiga chegou quando eu menos esperava. Agora é fundamental na minha vida e eu não sei o que seria de mim sem sua presença. Te desejo uma vida repleta de joaninhas!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

fitinha amarela

As fitinhas coloridas balançavam como se fosse um balé mudo. Agitadas, elas seguiam um ritmo ditado pelo vento, que, cada vez mais forte, mostrava que ele comandava ao seu prazer essa dança. Amarela, vermelha, azul, verde, lilás, rosa, branca... Cada cor se destacava, mas combinavam tão bem juntas que me deixavam “encucada” e, ao mesmo tempo, fascinada com aquelas meras fitinhas. Não eram mais nada que tiras coloridas de seda, mas tomava meus pensamentos e inundavam meu quarto vermelho de um colorido singelo. Senti-me envolta num mar de inúmeros matizes e sensações.
Sei lá como começou, mas, de repente, quando dei por mim, fazia laços com as fitinhas. Elas perdiam os movimentos, mas ganhavam uma forma especial. Eram elos que me remeteram imediatamente aos meus laços afetivos. Alguns eram feitos de nós tão fortes que nem mesmo eu conseguia desfazê-los. Outros eram fortes e formavam lindos laços, mas fui percebendo que a seda se desgastava. Com dó, puxei uma perna da tirinha lilás e vi que, mesmo assim, o paninho tinha ficado marcado forte pelo nó apertado, que maltratava ao invés de embelezar.
Fiquei feliz com o lacinho amarelo. Discreto, mansinho, tinha um certo ar materno. Misturava um carinho de mãe com as confidências de amigas e ficava ali numa posição acessível à mão e ao mesmo tempo a uma distância que dava uma liberdade natural. Ele tinha ficado conscientemente escondido no fundo da caixinha. Tinha medo de gostar demais do amarelo. Tinha medo de perde-lo e preferi escondê-lo de mim mesma. Mas hoje a saudade foi maior. Hoje a curiosidade em saber se o nó tinha sido feito com a força exata para não desfazer nem machucar falou mais alto.
E não é que ele estava lá feitinho. Fui perceber que o lacinho amarelo era bem mais bonito do que lembrava. Era meio dourado... Nada extravagante, mas tinha sim o brilho do ouro, o brilho do que é precioso. E a fitinha estava amarrada exatamente como antes. Olhei, coloquei o laço no cabelo e me fitei no espelho, faceira. Tive a certeza que estava atada a ele pra sempre. Mesmo que o tempo passe e o tecido esgarce, o sentimento que aquela fitinha me proporcionou nunca será esquecido. Depois guardei na mesma caixinha. Dessa vez, não tão escondida. Tinha perdido o medo. E o meu quarto voltou a ficar escarlate.

domingo, 10 de maio de 2009

Sumir

"Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência".


Sumi por que, às vezes, é o mais corajoso a fazer...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Pingos de saudade


Chove lá fora e eu, que nem uma criança boba, corro para minha varanda. Dobro-me sob o parapeito para tentar sentir uns pingos molhar meu rosto. Abro os braços como se quisesse abraçar a chuva, que agora cai forte e imponente. A movimentada avenida agora se cala e, muda, se rende ao tilintar da água.Vazia, calma e incrivelmente linda, a rua parece se mostrar adormecida como nunca. Também, já é madrugada... Também, ainda é segunda-feira. Todo mundo parece dormir e eu ali a brincar com a chuva, sem pudor, sem censuras. Sou apenas eu.
De repente, o cheirinho de asfalto molhado chega ao terceiro andar e, como mágica, um aroma de nostalgia aguça meu coração. Lembro da minha infância, dos chocolates em caixinhas brancas, dos banhos de chuvas com as crianças da minha antiga rua, de subir no pé de goiaba, da amarelinha e ... das pessoas que amo, mas que não estão mais podendo apreciar comigo uma noite chuvosa.
Lembrei do meu pai, apesar de quase nunca pensar nele. Apesar dele nunca ter sentado comigo pra ver uma chuva cair. A lembrança do meu avô, um aconchego para quando se quer fugir do frio. Senti ele segurar com as duas mãos a minha face e foi como se ele nunca estivesse ido. E ao lembrar dele, me veio a engraçada imagem da minha avó, que sempre teve medo dos trovões e relâmpagos. Ela não estava mais pertinho, estava no Bosque, com minha mãe, de quem eu morria de saudade.
Resolvi parar de rememorar, queria ter apenas doces recordações. Tive medo de pensar em quem não quero, de gastar as boas lembranças, de perder esse momento. Parei e continuei a olhar da minha varanda e a me perder no infinito que esta noite se tornou. Nem sei que horas fui pra cama, mas nem tinha pressa, afinal, já tinha acabado de sonhar...