quarta-feira, 29 de julho de 2009

Reencontro...

Hoje a gente mal se fala e faz de conta que esqueceu dos abraços, beijos, momentos, desejos... A gente finge que guardou junto com as lembranças o amor que aconteceu. E, por mais que eu entenda que eu deixei de ser “tua” e você, “meu”, é muito estranho me sentir assim tão distante de ti. Se antes era difícil amanhecer sem ter você, agora mal consigo tê-lo em um abraço. Já não sonho acordada com a gente e nem digo inúmeras vezes seu nome, não me pego pensando em você em meio a louca rotina do trabalho e muito menos disco teu número em busca, simplesmente, do conforto da tua voz. Tenho vergonha de ser boba, louca, criança, séria... Tenho medo de me mostrar de novo como eu sou.

Não é orgulho, nem rancor ou raiva. É defesa. Não sei nem quando, nem como, nem quanto te amo. O que sei é que a mesma intensidade que um dia me impulsionou a me jogar de olhos fechados em teus lábios agora me proíbe de ti. Não posso acertar se a distância e o tempo nos tornaram menos íntimos, quase estranhos um pro outro. O fato é que não garanto que consigo perceber o que se passa em teus olhos, tua fala, teus gestos. Provavelmente, nem você me vê mais como confidente, companheira, amiga verdadeira, amante nas horas vagas... O que sou pra você e o que você é pra mim? Quando que eu deixei de ser pra você aquilo que você era pra mim? Como a gente nem percebeu que o sal do mar foi alterando o sabor do nosso carinho?



“Tornar o amor real é expulsa-lo de você para que ele possa ser de alguém”,
Nando Reis

segunda-feira, 20 de julho de 2009

ao som de um bolero


Abro a porta de casa e adentro a sala ainda escura. Ligo o interruptor e o salão vai clareando. Como de costume, já vou desamarrando as sandálias e pisando com a ponta do pé o piso de madeira frio. Caminho devagar pelo recinto e abro displicente a porta da varanda quando, de repente, um bolero ecoa baixinho pela casa. Paro e tento ouvir melhor a canção que parece vir do prédio ao lado. Há quanto tempo não escuto um bolerão! A voz de Luis Miguel cantando “La barca” me convida a fechar os olhos e a me transportar magicamente a outro lugar. A cada acorde, um pensamento me foge e se perde entre memórias, sensações, sonhos e desejos. Como se estivesse sendo conduzida a bailar pela voz apaixonada do cantor, movo devagarzinho o corpo num “dois pra lá, dois pra cá”. “Dicen que la distancia es el olvido, pero yo no concibo esa razón”. Acordo e olho desconfiada ao redor. Seria brincadeira ou imaginação? Contudo, a canção continua independente do abrir ou fechar dos olhos. Rendo-me, então convencida, a um bailar solitário. Rodopio entre minhas plantas num movimento que acreditava não saber mais. Danço sozinha, mas deixo que a canção invada meus pensamentos. Danço sem me preocupar se estou ficando maluca ou se estou errando o ritmo. Danço pra mim, como há muito tempo não fazia. Gasto aqueles minutos na ponta dos pés e é com se eles tocassem apenas sonhos. O vizinho desliga o som e nem escuto que a música acabou. O coração está tão leve, tão feliz... Percebo que dançar continua sendo meu prazer, independente se meu par está ou não abraçado a mim.

terça-feira, 14 de julho de 2009

É amore?

Não me venha com seu sorriso irresistível e os brilhantes olhos apertados. Quero mais que mentiras sinceras e declarações de amor vazias. Cansei das tuas brincadeiras, desde aquelas com os meus cabelos, as cócegas abruptas e, principalmente, o jogo com os meus sentimentos. Dizer “eu te amo” perdeu a graça e caiu na banalização. Nem te culpo tanto. Afinal, será que de fato já amou alguém?
O problema é você gritar pra todo mundo “eu te amo” e ter a coragem de dizer essas três palavrinhas olhando pra mim. Como é que se ama quem mal se conhece? E não argumente sobre o amor a primeira vista. Não acredito mais em Papai Noel, Contos de Fadas e, muito menos, Príncipe Encantado. Amor de verdade é esculpido dia após dia. Tem as cores da cumplicidade e não brota em terra de mentira.
Amor de verdade é atento, se interessa pela sua vida, aconselha o melhor caminho, apóia os mais loucos sonhos, aconchega nas atribulações e perdoa os rompantes de raiva. Amor de verdade resiste à revelação daqueles segredos guardados à sete chaves, aos charmosos defeitos e acha lindo o chulé, o pé feinho e o bafo quando acordam juntos.
Quando eu digo “eu te amo” ressalto cada letra desta frase e digo, sem nem precisar falar, apenas com o olhar. Mas às vezes a gente precisa ouvir sonoramente essas palavras. Não da boca pra fora... Não o mesmo “eu te amo” que diz a quem mal entende sua fala. Queria ouvir um “eu te amo” que você nunca disse. Aquele com alma e verdade. Capisci?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Dúvida

O céu azul e as nuvens branquinhas. Enfim, depois de tanta chuva, o sol tinha voltado. Sentada na areia fina da praia me concentro a construir bem devagar um murinho. Enquanto o sol castiga silencioso o branquinho da pele, franzo testa e nariz, como se estivesse querendo enxergar mais longe. A luminosidade é forte e chega a doer o olhar e a arder os ombros. Fazia tempo que não me expunha tanto e, claro, o corpo sentia essa demora. Aos poucos, vou abrindo lentamente os olhos, a testa volta a ficar retinha e começo a aproveitar o momento. Sinto o cheiro salgado da praia, a brisa acaricia meu rosto, bagunçando de leve os cabelos. O barulho do mar parece soar mais forte e acalma. Fecho os olhos para organizar e potencializar as sensações. Temo que o tempo feche de novo ou que a onda, rebelde, derrube a frágil barreira que criei com tanto zelo. Meu coração agitado não deixa mais sentir aquela paz. Medo de perder o momento, de perder meu episódio feliz, meu calorzinho abrandado pelo vento discreto. Será que a onda é forte? Será que preciso do muro? Será .... será... será.... A dúvida me faz perder tempo. O medo me rouba o momento. Abro os olhos e o que vejo?