terça-feira, 3 de novembro de 2009

Envelhecer é encher os tonéis de saudade


Um dia eu li em algum lugar que “envelhecer é encher sem fim os tonéis de saudade”. Lembro que na época eu gostei muito da frase. Confesso que mais pelo efeito que pelo entendimento. Agora, faltando algumas horas para que eu, de repente, acorde com vinte e seis anos (ai, chega a dar medo!), esse conceito me cai como uma luva. Venho pensado muito na minha vida, ultimamente. Fazendo aqueles balanços típicos de fim de ciclos, analisando as perdas e ganhos, planejando o próximo ano, prometendo coisas a mim mesma. Pensar, pensar, pensar e pensar. De súbito, percebi que deveria deixar de tentar racionalizar tanto e me deixar simplesmente sentir. Foi quando eu senti que eu estava, de fato, “transbordando de saudade”. Não a saudade das pessoas que passaram pela minha vida e me deixaram marcas – algumas profundas e outras nem tanto-, mas uma falta de mim. Sinto saudade da ingenuidade que me acompanhou durante tantos anos e me fazia acreditar, sem nem pestanejar, em um mero desconhecido. Onde está aquele contentamento infantil aprendido com a pequena Polyana? Ou mesmo o romantismo incorrigível que me fazia acreditar no príncipe encantado e no amor eterno? Por onde deixei a confiança quase suicida de me entregar sem reservas às pessoas? E a coragem inocente de dizer tudo o que o coração sentia, sem medo de me expor ou de me despir de qualquer armadura? Que saudade de mim, do que eu quis ser e não fui! Uma saudade que o tempo nos deixa. Envelhecer traz consigo a sabedoria de conseguir enxergar além das máscaras das pessoas, de perceber os perigos e nos fazer proteger do que, invariavelmente, nos fará mal. Sofrer é inevitável, mas tudo o que pudermos fazer para diminuir a dor a gente faz. Amar é nossa missão, principalmente, quando o amor é pra gente mesmo. Então, essa saudade tem um gosto amargo doce. Aquilo que nos faz querer voltar a ser o que era e, ao mesmo tempo, perceber que o que ficou também não é ruim... que ser mais realista é necessário. Talvez, no próximo ano, terei saudades de outras coisas de mim. Por enquanto, essa saudade me inunda e me faz transbordar.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Carol.


A gente tem poucas certezas na vida e muitas lembranças. Certeza é quando não se tem dúvida nenhuma. Lembrança é quando a gente se pega revivendo o passado através de recordações. No meu dicionário, essas duas palavras têm o mesmo sinônimo. No baú da memória é difícil o momento em que não esteve presente, o segredo que não foi confidenciado, o pranto que não foi acalantado, o sorriso que não foi repartido. Lembrar da minha história é conseguir sentir sua presença bem perto. Desde as inocentes brincadeiras de boneca, a amizade com cheiro doce de bombom, biscoito, bolo e sorvete. Na adolescência cheia de dúvidas, a estabilidade que teus ouvidos, sempre dispostos a mais um devaneio meu, me proporcionava. E o frescor dessa recente vida adulta sendo descoberto juntas. Degrau por degrau... Crescendo a cada ano.... Apagando, sob o aplauso da outra, cada vela. Isso são lembranças. Isso também é certeza. Certeza de que nunca estarei sozinha, de que amar vale a pena, que apenas um olhar é o suficiente e que Deus acertou em cheio quando uniu nossas vidas através de sangue, confiança e carinho.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Com a mala na mão

Parado na porta da minha casa, segurando uma imensa mala vermelha, ele me olha sem dizer uma só palavra. Grande, forte, bonito... Dá até uma dorzinha no peito, uma espécie de saudade da companhia, do conforto, da segurança , da adrenalina que me causava. Às vezes fico pensando que ele podia ficar um pouquinho mais de tempo, uns dias a mais, horas sequer pra gastar um pouquinho mais da presença.
Imploro, faço charme, bico, cena. Tudo em vão. A gente vai descendo as escadas rumo ao carro que o espera com o motor já ligado. Em cada degrau a gente relembra momentos. Como nos divertimos! Com ele, tinha mais vontade de aceitar a vida, perdoar os outros, ser mais amiga, ajudar criancinhas, me aventurar em viagens inesperadas, varar a noite de bar em bar, dançar até nascer o dia...
No fundo eu sei (sempre soube, na verdade!) que sua passagem pela minha vida era passageira, sem querer ser redundante. Ele nunca disse que iria ficar pra sempre. Tinha a passagem de volta comprada qunado chegou. E nossa convivência já não estava sendo assim tão harmônica. Ultimamente, não me sentia mais inteira, completa, solar. O mundo não cabia mais na minha mão. Voltara a ser graaande e eu pequenina com meus meros 1,68m.
Eu olho pro carro dobrando a esquina com ele dentro. A rua vai crescendo, levando-o para mais distante até desaparecer. Não choro, como pensava que faria. Eu sei que ele volta. O Sr. Amor sempre volta, pode até não ser eterno. Volta, volta, sim. Com outras roupas, presentes, habilidades. Pode não dançar bem, mas cantar em uma serenata ou escrever pra mim poemas ou me fazer rir com piadas inteligentes. O problema é que dá preguiça de começar tudo de novo. Mas to louca pra voltar a acorda cantando, a ficar que nem boba, a esperar tocar o telefone. No momento, subo a escada sozinha, mas com a sensação de que vivi o que poderia viver.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

enLUArada

Fazia tempo que não escrevia. E era o danado do tempo que impedia. Danada, fugi e escrevi correndo o texto só pra matar a saudade daqui.


Oh, Lua majestosa! Redonda, dourada, encantada.
Lua que embala o romance dos namorados
Musa inspiradora dos poetas
Astro que reina nesse céu infinito de estrelas
Te olho e tu me fitas como se me conhecesse intimamente
Como se me confidenciasse, faceira, parceira
És bela na tua perfeita forma
Incerta, mutável, completa e em pedaços
E me pergunto: é esse o teu mistério?
Tu me respondes com um silêncio noturno
Volto a perguntar, dessa vez, se meu amor te ver
Tu, lá em cima, ele, longe, eu, distante
Fugaz, te escondes na neblina
A Lua foge pra não levar meu beijo ao seu destino
Eu aguardo o afago, o carinho, o abraço, o encontro e o aconchego

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Reencontro...

Hoje a gente mal se fala e faz de conta que esqueceu dos abraços, beijos, momentos, desejos... A gente finge que guardou junto com as lembranças o amor que aconteceu. E, por mais que eu entenda que eu deixei de ser “tua” e você, “meu”, é muito estranho me sentir assim tão distante de ti. Se antes era difícil amanhecer sem ter você, agora mal consigo tê-lo em um abraço. Já não sonho acordada com a gente e nem digo inúmeras vezes seu nome, não me pego pensando em você em meio a louca rotina do trabalho e muito menos disco teu número em busca, simplesmente, do conforto da tua voz. Tenho vergonha de ser boba, louca, criança, séria... Tenho medo de me mostrar de novo como eu sou.

Não é orgulho, nem rancor ou raiva. É defesa. Não sei nem quando, nem como, nem quanto te amo. O que sei é que a mesma intensidade que um dia me impulsionou a me jogar de olhos fechados em teus lábios agora me proíbe de ti. Não posso acertar se a distância e o tempo nos tornaram menos íntimos, quase estranhos um pro outro. O fato é que não garanto que consigo perceber o que se passa em teus olhos, tua fala, teus gestos. Provavelmente, nem você me vê mais como confidente, companheira, amiga verdadeira, amante nas horas vagas... O que sou pra você e o que você é pra mim? Quando que eu deixei de ser pra você aquilo que você era pra mim? Como a gente nem percebeu que o sal do mar foi alterando o sabor do nosso carinho?



“Tornar o amor real é expulsa-lo de você para que ele possa ser de alguém”,
Nando Reis

segunda-feira, 20 de julho de 2009

ao som de um bolero


Abro a porta de casa e adentro a sala ainda escura. Ligo o interruptor e o salão vai clareando. Como de costume, já vou desamarrando as sandálias e pisando com a ponta do pé o piso de madeira frio. Caminho devagar pelo recinto e abro displicente a porta da varanda quando, de repente, um bolero ecoa baixinho pela casa. Paro e tento ouvir melhor a canção que parece vir do prédio ao lado. Há quanto tempo não escuto um bolerão! A voz de Luis Miguel cantando “La barca” me convida a fechar os olhos e a me transportar magicamente a outro lugar. A cada acorde, um pensamento me foge e se perde entre memórias, sensações, sonhos e desejos. Como se estivesse sendo conduzida a bailar pela voz apaixonada do cantor, movo devagarzinho o corpo num “dois pra lá, dois pra cá”. “Dicen que la distancia es el olvido, pero yo no concibo esa razón”. Acordo e olho desconfiada ao redor. Seria brincadeira ou imaginação? Contudo, a canção continua independente do abrir ou fechar dos olhos. Rendo-me, então convencida, a um bailar solitário. Rodopio entre minhas plantas num movimento que acreditava não saber mais. Danço sozinha, mas deixo que a canção invada meus pensamentos. Danço sem me preocupar se estou ficando maluca ou se estou errando o ritmo. Danço pra mim, como há muito tempo não fazia. Gasto aqueles minutos na ponta dos pés e é com se eles tocassem apenas sonhos. O vizinho desliga o som e nem escuto que a música acabou. O coração está tão leve, tão feliz... Percebo que dançar continua sendo meu prazer, independente se meu par está ou não abraçado a mim.

terça-feira, 14 de julho de 2009

É amore?

Não me venha com seu sorriso irresistível e os brilhantes olhos apertados. Quero mais que mentiras sinceras e declarações de amor vazias. Cansei das tuas brincadeiras, desde aquelas com os meus cabelos, as cócegas abruptas e, principalmente, o jogo com os meus sentimentos. Dizer “eu te amo” perdeu a graça e caiu na banalização. Nem te culpo tanto. Afinal, será que de fato já amou alguém?
O problema é você gritar pra todo mundo “eu te amo” e ter a coragem de dizer essas três palavrinhas olhando pra mim. Como é que se ama quem mal se conhece? E não argumente sobre o amor a primeira vista. Não acredito mais em Papai Noel, Contos de Fadas e, muito menos, Príncipe Encantado. Amor de verdade é esculpido dia após dia. Tem as cores da cumplicidade e não brota em terra de mentira.
Amor de verdade é atento, se interessa pela sua vida, aconselha o melhor caminho, apóia os mais loucos sonhos, aconchega nas atribulações e perdoa os rompantes de raiva. Amor de verdade resiste à revelação daqueles segredos guardados à sete chaves, aos charmosos defeitos e acha lindo o chulé, o pé feinho e o bafo quando acordam juntos.
Quando eu digo “eu te amo” ressalto cada letra desta frase e digo, sem nem precisar falar, apenas com o olhar. Mas às vezes a gente precisa ouvir sonoramente essas palavras. Não da boca pra fora... Não o mesmo “eu te amo” que diz a quem mal entende sua fala. Queria ouvir um “eu te amo” que você nunca disse. Aquele com alma e verdade. Capisci?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Dúvida

O céu azul e as nuvens branquinhas. Enfim, depois de tanta chuva, o sol tinha voltado. Sentada na areia fina da praia me concentro a construir bem devagar um murinho. Enquanto o sol castiga silencioso o branquinho da pele, franzo testa e nariz, como se estivesse querendo enxergar mais longe. A luminosidade é forte e chega a doer o olhar e a arder os ombros. Fazia tempo que não me expunha tanto e, claro, o corpo sentia essa demora. Aos poucos, vou abrindo lentamente os olhos, a testa volta a ficar retinha e começo a aproveitar o momento. Sinto o cheiro salgado da praia, a brisa acaricia meu rosto, bagunçando de leve os cabelos. O barulho do mar parece soar mais forte e acalma. Fecho os olhos para organizar e potencializar as sensações. Temo que o tempo feche de novo ou que a onda, rebelde, derrube a frágil barreira que criei com tanto zelo. Meu coração agitado não deixa mais sentir aquela paz. Medo de perder o momento, de perder meu episódio feliz, meu calorzinho abrandado pelo vento discreto. Será que a onda é forte? Será que preciso do muro? Será .... será... será.... A dúvida me faz perder tempo. O medo me rouba o momento. Abro os olhos e o que vejo?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O rei está morto

Michel Jackson morreu. Até para quem não é fã do cantor, como eu, a notícia soou como um grande susto. A gente não para pra pensar que essas pessoas são mortais. Que até o Rei do Pop um dia abandonaria seu trono. Mas, agora, o que me vem à cabeça é quão humanos e expostos são esses Olimpianos. Apesar de toda a genialidade de sua obra, dos avanços que promoveu no meio musical, das barreiras que transpôs, Michael morre e é lembrado, pela maioria, apenas pelos escândalos sobre seu possível desvio sexual, sobre o negro que ficou branco, sobre o pedófilo e excêntrico... Até parece que a fama e o dinheiro são garantias e obrigação de felicidade plena. As pessoas criticam que, “tendo tudo, não deveria ter terminado assim”, mas não pensam que, talvez, o que faltou ao menino era infância na hora certa, os momentos de brincadeiras ao invés dos aplausos no palco. O que faltou foi a oportunidade de errar e não a exigência da perfeição. Perfeição que se traduz na cara, na busca eterna pela juventude, na metamorfose estética mal-sucedida. Na hora, em que Michael sai de cena, espera-se que as luzes se apaguem para que ele possa caminhar, em paz, na lua!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Vanila Sky


Estou nas nuvens! E isso não é nenhuma figura de linguagem. O avião decolou e me pego apreciando aqueles flocos branquinho, como algodão. Não observo mais como uma criança que busca as figuras conhecidas. Eu apenas vejo a beleza que tem na simplicidade que a nuvem. E, de repente, comecei a perceber porque a expressão “estar nas nuvens” é usada para designar felicidade. A felicidade é simples e, como já dizia Guimarães Rosa, a gente a encontra em horinhas de descuido.
Daqui de cima, comecei a ver as coisas, não só de um outro ângulo, como também de uma outra dimensão. Do céu, os gigantes edifícios ficam pequenininhos, assim como os problemas, a saudade, o rancor... Estou rindo de tudo. Como eles eram pequenos diante da vida!
Como eles são pequenos diante do milagre que é ver um pôr-do-sol do céu. Ele é maravilhoso. O azul do céu cede espaço para outro colorido. Vários matizes pintam o azul celeste de baunilha, laranja, dourado e, em alguns pontos, até o rosa. A luz que bate nas nuvens parece deixa-las com outra textura e consistência. Era como se estivesse voando num mar cheio de geleiras.
Que bom que não fechei a janela. Que bom foi ter olhado, por descuido, pelo vidrinho. Que bom foi ter encontrado a dona Felicidade!




O post veio atrasado. Foi na minha volta ao Rio. Devido alguns probleminhas no meu pc só pôde ser publicado agora, mas vale, né?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Tempo ao tempo

"O tempo passa quando a gente não está olhando". Ouvi essa frase num filme que assisti ontem à noite. Foi dita em meio a um monte de outras afirmativas interessantes, mas essa me chamou especial atenção. Quantas vezes esperei que o danado do tempo passasse pela minha vida carregando um monte de sentimentos, emoções e coisas velhas que já não cabiam mais! Quantas vezes ouvi as pessoas proferindo um dos ditados mais sábios para mim: "O tempo cura tudo. Isso vai passar".O fato é que o tempo passava.... mas só passava. Não curava, não levava nada embora. Mas, ontem, eu percebi que o deus Cronos tinha sim brincado um pouquinho com a minha vida. Quando eu deixei pra lá ele veio e levou as "velharias" com ele. Não que eu não desse valor a cada fitinha, a cada lembrança ou sentimento empoeirado. Mas é que, há muito tempo, eu precisava limpar a casa, deixar a luz entrar, perfumar o ambiente para as coisas novas. O tempo levou, não jogou fora. Ele, na verdade, pôs as coisas velhas em seu lugar: no passado. Elas ficaram apenas como lembranças, não mais como meu mais precioso "presente". Vi isso assim que senti que meu coração não queimou mais, quando meu rosto não ruborizou e quando eu fiquei feliz em sentir apenas a paz.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sob as bençãos do Cristo

Já escrevi várias coisas desde que peguei o avião aqui pro Rio. Pense numa viagem critiva! O problema é que a internet aqui do hotel é muito ruim e não consigo postar os textos. Esse daí foi um dos primeiros... Estou enviando da sala de imprensa do Fashion Rio, entre um desfile e outro.



Clichês à parte, mas é inevitável começar esse post de hoje com a frase: “O Rio de Janeiro continua lindo”. Não é à toa que ganhou, com todo o mérito, o apelido de cidade maravilhosa. Acordei e, da minha varanda, dei de cara com a praia de Copacabana. O sol se exibia como em nenhum lugar. Também, lindos homens e mulheres desfilavam faceiros pelo calçadão e pelas areias branquinhas em busca do bronzeado que só o carioca tem.

O Rio é mesmo único e recebe o estrangeiro com os braços abertos, que nem o Cristo Redentor. O Rio, do Pão de Açúcar, do Corcovado, de Copacabana, da Lagoa, de Ipanema, do Leblon.... O Rio, do Maracanã, da Lapa, do samba, da bossa nova, da cerveja gelada... O Rio do malandro, da mulata, da loirinha, do surfista, do casal de velhinhos que caminha sem pressa...
Não sei o que é, mas a gente anda pelas ruas do Rio e se sente em uma cena de novela de Manoel Carlos. É exatamente assim que eu me sinto esses dias, como se estivesse, em câmera lenta, encenando uma trama global. As calçadas com uma gente alegre e bonita, os bares sempre abertos convidando à boemia, a praia seduzindo a um descanso... O povo parece falar com a língua universal do sorriso, dança como se estivesse andando e vive como se estivesse... vivendo! É, o Rio de Janeiro continua sendo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

à tici, com carinho


O amor é imprevisível, mas, em alguns casos, surpreendente seria não amar. E foi assim, naturalmente, que passei a amar a menina do céu cor de rosa. Como não se entregar a alguém que revela tanta pureza e beleza em seu coração? Como não admirá-la por conseguir sempre enxergar o melhor das pessoas? Como não embarcar em seus sonhos mais impossíveis (ela sempre faz questão de manter os pés bem longe do chão seja pelos saltos enormes ou pelas idéias viajantes!) quando a empolgação é tão forte quanto presente? Como não se desmanchar quando ela sorri sem pudores ou deixa escapar lágrimas fartas de seus olhos mel? O olhar é doce, mas a presença é ainda mais açucarada. E o segredo dessa convivência não se tornar enjoativa é que ela ainda dá uma apimentada para cortar os excessos. Excesso mesmo só de carinho e confiança. Hoje sei que este foi um presente com direito a papel de seda e laço de fita vermelho e tudo. Se eu deixei de procurar joaninhas no meu jardim porque sei que elas vêem até nós foi graças a seu exemplo. A prova ela deu de na prática: minha grande amiga chegou quando eu menos esperava. Agora é fundamental na minha vida e eu não sei o que seria de mim sem sua presença. Te desejo uma vida repleta de joaninhas!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

fitinha amarela

As fitinhas coloridas balançavam como se fosse um balé mudo. Agitadas, elas seguiam um ritmo ditado pelo vento, que, cada vez mais forte, mostrava que ele comandava ao seu prazer essa dança. Amarela, vermelha, azul, verde, lilás, rosa, branca... Cada cor se destacava, mas combinavam tão bem juntas que me deixavam “encucada” e, ao mesmo tempo, fascinada com aquelas meras fitinhas. Não eram mais nada que tiras coloridas de seda, mas tomava meus pensamentos e inundavam meu quarto vermelho de um colorido singelo. Senti-me envolta num mar de inúmeros matizes e sensações.
Sei lá como começou, mas, de repente, quando dei por mim, fazia laços com as fitinhas. Elas perdiam os movimentos, mas ganhavam uma forma especial. Eram elos que me remeteram imediatamente aos meus laços afetivos. Alguns eram feitos de nós tão fortes que nem mesmo eu conseguia desfazê-los. Outros eram fortes e formavam lindos laços, mas fui percebendo que a seda se desgastava. Com dó, puxei uma perna da tirinha lilás e vi que, mesmo assim, o paninho tinha ficado marcado forte pelo nó apertado, que maltratava ao invés de embelezar.
Fiquei feliz com o lacinho amarelo. Discreto, mansinho, tinha um certo ar materno. Misturava um carinho de mãe com as confidências de amigas e ficava ali numa posição acessível à mão e ao mesmo tempo a uma distância que dava uma liberdade natural. Ele tinha ficado conscientemente escondido no fundo da caixinha. Tinha medo de gostar demais do amarelo. Tinha medo de perde-lo e preferi escondê-lo de mim mesma. Mas hoje a saudade foi maior. Hoje a curiosidade em saber se o nó tinha sido feito com a força exata para não desfazer nem machucar falou mais alto.
E não é que ele estava lá feitinho. Fui perceber que o lacinho amarelo era bem mais bonito do que lembrava. Era meio dourado... Nada extravagante, mas tinha sim o brilho do ouro, o brilho do que é precioso. E a fitinha estava amarrada exatamente como antes. Olhei, coloquei o laço no cabelo e me fitei no espelho, faceira. Tive a certeza que estava atada a ele pra sempre. Mesmo que o tempo passe e o tecido esgarce, o sentimento que aquela fitinha me proporcionou nunca será esquecido. Depois guardei na mesma caixinha. Dessa vez, não tão escondida. Tinha perdido o medo. E o meu quarto voltou a ficar escarlate.

domingo, 10 de maio de 2009

Sumir

"Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência".


Sumi por que, às vezes, é o mais corajoso a fazer...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Pingos de saudade


Chove lá fora e eu, que nem uma criança boba, corro para minha varanda. Dobro-me sob o parapeito para tentar sentir uns pingos molhar meu rosto. Abro os braços como se quisesse abraçar a chuva, que agora cai forte e imponente. A movimentada avenida agora se cala e, muda, se rende ao tilintar da água.Vazia, calma e incrivelmente linda, a rua parece se mostrar adormecida como nunca. Também, já é madrugada... Também, ainda é segunda-feira. Todo mundo parece dormir e eu ali a brincar com a chuva, sem pudor, sem censuras. Sou apenas eu.
De repente, o cheirinho de asfalto molhado chega ao terceiro andar e, como mágica, um aroma de nostalgia aguça meu coração. Lembro da minha infância, dos chocolates em caixinhas brancas, dos banhos de chuvas com as crianças da minha antiga rua, de subir no pé de goiaba, da amarelinha e ... das pessoas que amo, mas que não estão mais podendo apreciar comigo uma noite chuvosa.
Lembrei do meu pai, apesar de quase nunca pensar nele. Apesar dele nunca ter sentado comigo pra ver uma chuva cair. A lembrança do meu avô, um aconchego para quando se quer fugir do frio. Senti ele segurar com as duas mãos a minha face e foi como se ele nunca estivesse ido. E ao lembrar dele, me veio a engraçada imagem da minha avó, que sempre teve medo dos trovões e relâmpagos. Ela não estava mais pertinho, estava no Bosque, com minha mãe, de quem eu morria de saudade.
Resolvi parar de rememorar, queria ter apenas doces recordações. Tive medo de pensar em quem não quero, de gastar as boas lembranças, de perder esse momento. Parei e continuei a olhar da minha varanda e a me perder no infinito que esta noite se tornou. Nem sei que horas fui pra cama, mas nem tinha pressa, afinal, já tinha acabado de sonhar...