segunda-feira, 18 de maio de 2009

fitinha amarela

As fitinhas coloridas balançavam como se fosse um balé mudo. Agitadas, elas seguiam um ritmo ditado pelo vento, que, cada vez mais forte, mostrava que ele comandava ao seu prazer essa dança. Amarela, vermelha, azul, verde, lilás, rosa, branca... Cada cor se destacava, mas combinavam tão bem juntas que me deixavam “encucada” e, ao mesmo tempo, fascinada com aquelas meras fitinhas. Não eram mais nada que tiras coloridas de seda, mas tomava meus pensamentos e inundavam meu quarto vermelho de um colorido singelo. Senti-me envolta num mar de inúmeros matizes e sensações.
Sei lá como começou, mas, de repente, quando dei por mim, fazia laços com as fitinhas. Elas perdiam os movimentos, mas ganhavam uma forma especial. Eram elos que me remeteram imediatamente aos meus laços afetivos. Alguns eram feitos de nós tão fortes que nem mesmo eu conseguia desfazê-los. Outros eram fortes e formavam lindos laços, mas fui percebendo que a seda se desgastava. Com dó, puxei uma perna da tirinha lilás e vi que, mesmo assim, o paninho tinha ficado marcado forte pelo nó apertado, que maltratava ao invés de embelezar.
Fiquei feliz com o lacinho amarelo. Discreto, mansinho, tinha um certo ar materno. Misturava um carinho de mãe com as confidências de amigas e ficava ali numa posição acessível à mão e ao mesmo tempo a uma distância que dava uma liberdade natural. Ele tinha ficado conscientemente escondido no fundo da caixinha. Tinha medo de gostar demais do amarelo. Tinha medo de perde-lo e preferi escondê-lo de mim mesma. Mas hoje a saudade foi maior. Hoje a curiosidade em saber se o nó tinha sido feito com a força exata para não desfazer nem machucar falou mais alto.
E não é que ele estava lá feitinho. Fui perceber que o lacinho amarelo era bem mais bonito do que lembrava. Era meio dourado... Nada extravagante, mas tinha sim o brilho do ouro, o brilho do que é precioso. E a fitinha estava amarrada exatamente como antes. Olhei, coloquei o laço no cabelo e me fitei no espelho, faceira. Tive a certeza que estava atada a ele pra sempre. Mesmo que o tempo passe e o tecido esgarce, o sentimento que aquela fitinha me proporcionou nunca será esquecido. Depois guardei na mesma caixinha. Dessa vez, não tão escondida. Tinha perdido o medo. E o meu quarto voltou a ficar escarlate.

3 comentários:

  1. Mulher, que texto mais mais mais lindo! Tu tem um dom para descrever cenas e ambientes fenomenal! E quem é essa fitinha amarela? Lembrei de uma música: "Fita amarela", no Noel Rosa. A música não tem nada a ver com o texto, talvez só o fato - o que é o mais importante, de falar de sentimento :o) bjooooooos!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Karine, simplismente lindo esse texto!
    Realmente tens o dom de escrever!!!
    Beijo!

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